Estamos em uma era interconectada que permite o compartilhamento de informações de forma cada vez mais rápida, proporcionando mudanças de padrões e comportamentos em velocidade similar.
Como dissemos no artigo “Como e por que se transformar em uma máquina de ideias”, a divergência entre a velocidade com que a tecnologia se desenvolve e a mente humana opera talvez seja o principal ponto para termos a percepção de que o mundo está mudando rápido demais. Tecnologias podem avançar em escala exponencial, enquanto a mente humana opera a maior parte do tempo de forma linear.
Precisamos constantemente aprender e nos adaptar como nunca visto na história, o que significa mudar a estrutura de pensamentos altamente enraizados biologicamente e culturalmente. Ou seja, precisamos aprender muito, porém simultaneamente precisamos aprender a desaprender para não corrermos o risco de olhar o novo através de conceitos obsoletos.
No livro Powershift, escrito em 1990, o escritor e futurista Alvin Toffler definiu isso bem:
“O analfabeto do século XXI não será aquele que não consegue ler e escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender e reaprender”
Dentro do contexto apresentado, o conceito de desaprender para aprender é relacionado principalmente ao ensino e mercado de trabalho, porém pode ser aplicado a vida de maneira geral. Vamos falar um pouco sobre cada um deles:
Até aqui possuíamos um modelo educacional adequado para a sociedade industrial, na qual não havia grandes mudanças acontecendo a todo momento. O que se aprendia era suficiente em termos de “empregabilidade”, pois continuava fazendo sentido anos e décadas depois. Agora, vivemos numa época de mudanças onde o estudo é mais constante. O que mais se exige é “trabalhabilidade” — a capacidade de inovar sempre.
Outra característica é que o conhecimento geralmente pertencia a alguém. Você precisava dispor de esforço e dinheiro para buscá-lo. Hoje, por outro lado, a abundância de informações permite que praticamente toda pessoa possa aprender e executar qualquer coisa. Claro, ainda existem as restrições de profissões e atividades regulamentadas, porém a maior parte das atividades e habilidades podem ser aprendidas e misturadas.
Considerando que o aprendizado é dinâmico, não adianta apenas entulhar conhecimento. Muitas vezes precisamos nos livrar do que não funciona mais.
Gigantes do mercado estão perdendo espaço para empresas menores e mais ágeis. Para os profissionais, não basta apenas aprender a profissão. Existe uma complexidade maior que exige habilidades e comportamentos muitas vezes multidisciplinares para executar o trabalho e conviver em sociedade.
Muitas estratégias e lideranças que se desenvolveram a partir de um modelo mental e funcionaram no passado, podem estar obsoletas e não funcionarem mais como antes.
Outro ponto importante é se compararmos o tempo de trabalho vinculado a uma função/empresa entre a geração atual e as anteriores. O padrão anterior era conseguir um emprego, se especializar em uma função e seguir até a aposentadoria. Já atualmente os cargos (estáticos) estão transitando para funções (fluídas). Além das pessoas mudarem de empresas com uma frequência maior.
Desde o nascimento absorvemos conceitos e padrões através dos nossos pais, amigos, professores, religiosos e da sociedade de forma geral, sobre o que é “ser correto”, “ser uma boa pessoa”, “ser bem sucedido” e segue a lista.
Neste ponto, desaprender para aprender é uma forma de mudança de perspectiva sobre coisas que estão obsoletas e/ou não fazem mais sentido para você. Lembre-se que não faz sentido uma autocobrança para se encaixar em um modelo ultrapassado.
. . .
Em resumo você aplica o conceito de desaprender quando:
Desenvolva a habilidade de parar e analisar seus padrões, hábitos, crenças, seja lá o que for. Em sua palestra no Ted Talks, o professor Ken Spring, colocou isso bem:
“Você precisa fazer perguntas, apesar do que sua avó lhe disser. Convido você a fazer perguntas. Faça perguntas importantes. Perguntas difíceis. Os tipos de perguntas que tendemos a evitar nas reuniões de família ou nas conversas no local de trabalho. Faça com os ouvidos abertos, com a mente aberta e o coração aberto. Assim como você faz essas perguntas difíceis a outras pessoas, olhe para dentro e pergunte as mesmas coisas” (em tradução livre)
Você já olhou uma foto antiga e se perguntou como teve coragem de se vestir assim? Por que isso não se aplicaria a coisas não materiais?
Ao identificar que existe um ponto divergente com a sua visão de futuro, o próximo passo é se aprofundar no tema e validar ou não as suas novas ideias. Confirmado seu novo ponto de vista, você precisará se convencer reforçando que o velho modelo não é mais efetivo.
No artigo “Why the Problem with Learning Is Unlearning” (“Por que o problema com aprender é desaprender” em tradução livre), Mark Bonchek fala sobre a dificuldade em reconhecer que o velho modelo não é mais efetivo, pois construímos nossa reputação e carreira com o domínio desses modelos antigos. Abandoná-los pode parecer como recomeçar e perder nosso status, autoridade ou senso de identidade.
“Quanto menos motivos se tem para justificar um hábito, mais difícil costuma ser se livrar dele.” – Mark Twain
O próximo passo será criar um modelo baseado nas experiências e referências que condizem com o seu novo olhar. Porém, quanto mais enraizado o antigo padrão, maior será a dificuldade em alterá-lo.
Para demonstrar como as influências moldam nossas ações de forma inconsciente, assista o vídeo: “The backwards brain bicycle: un-doing understanding” (“A bicicleta do cérebro invertido: entendimento em queda” em tradução livre). Nele Destin Sandlin realizou um experimento fantástico invertendo a direção da bicicleta. Resultado: Ele, um adulto, levou 8 meses para se adaptar ao novo padrão. Já seu filho, uma criança (com uma plasticidade mental maior), se adaptou em 2 semanas.
Ainda segundo Mark Bonchek, esse processo não é diferente de criar um hábito comportamental, como sua dieta por exemplo. A tendência será voltar à velha maneira de pensar e, portanto, à velha maneira de fazer. É útil criar gatilhos que o alertem para qual modelo você está trabalhando.
Seja paciente consigo mesmo. O processo não será de forma linear. O importante é dar os primeiros passos, mesmo que menores, e manter a consistência das ações.
Aprender a desaprender é desenvolver a percepção de identificar padrões não efetivos, criar e manter um modelo que permitirá uma transição mais efetiva para novos conhecimentos, seja para aprender uma nova habilidade, desenvolver sua carreira profissional ou se tornar uma pessoa melhor.
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Caso queira falar sobre o artigo você pode utilizar a caixa de comentários mais abaixo. Para receber um aviso por email de novos conteúdos assine a nossa Newsletter.
Referências:
Artigo: “Como e por que se transformar em uma máquina de ideias”
Livro: Powershift de Alvin Toffler
Imagem Enciclopédia: Photo by James L.W on Unsplash
Imagem Yoda: Photo by Nadir sYzYgY on Unsplash
Palestra de Ken Spring: Ted Talks
Artigo de Mark Bonchek: “Why the Problem with Learning Is Unlearning”
Vídeo sobre a bicicleta invertida de Destin Sandlin: “The backwards brain bicycle: un-doing understanding”
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Frequentemente vemos e ouvimos comentários sobre como o mundo está mudando cada vez mais rapidamente.
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